3.10.10

Capítulo I - Domingo.

Era domingo, a chuva caía devagar lá fora. Na internet toda porcaria vomitada pelas pessoas mais idiotas da face da Terra. As eleições tomavam conta do imaginário popular, mas o "Monstro DJ" persistia em me irritar dizendo que a democracia fazia o Tiririca se eleger com 1,3 milhões de votos na cidade que mais produz obras acadêmicas do Brasil. Precisava sair. Os cigarros acabaram, então eu já tinha um pretexto. Agora precisava de alguém. O Eduardo. Afinal quando um cara que gosta de trash metal, tem um cabelo que passa dos ombros e cursa o primeiro ano de história vai recusar a proposta de sair no domingo à noite? Ele deu a idéia, eu aderi. Café e cigarros. Então corremos, como ladrões fugindo dos cães da polícia. A primeira padaria que avistamos foi nossa salvação. Ao modo dos bandeirantes, observamos o terreno, tudo limpo. Sentamos na cadeira, passamos cerca de três minutos falando de coisas que não me lembro, até que chega o homem que mudaria nossos próximos trinta minutos. Ele entregou o cardápio como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo. E naquela lista infinda de opções líquidas e sólidas que uma padaria oferece, escondido entre o pingado e o pão com mortadela, ali estava: o café médio! Cento e vinte mililitros de um líquido negro e quente, depositado numa xícara de porcelana grafada com o nome e logomarca do estabelecimento que fornecia o produto. O açúcar acompanhava o café, e era todo por conta da casa. Não pensamos duas vezes, três ou quatro colheres de chá na xícara de cada um, sábiamos, era o bastante. A colher diluía em movimentos circulares os doces e brancos cristais, adoçando. Bebemos com educação, pausadamente, de gole em gole, usufruindo cada segundo da nossa existência enquanto homens sentados na calçada de uma padaria, no domingo, bebendo café. Mas faltava alguma coisa ainda, aos poucos me lembrava o motivo primeiro que fez com que eu quisesse sair de casa aquele dia, além do tédio. Eram os cigarros, cilindros de papel preenchidos em seu interior por tabaco seco e triturado, uma miligrama de alcatrão, zero vírgula oito miligramas de nicotina e dez miligramas de carbono por gostosura cancerígena. Três e setenta e cinco, era da marca Hollywood, original, filtro amarelo. Ambos tinham palitos de fósforo, logo, não fora nenhum desafio acender os primeiros cigarros. Pra acompanhar, pedimos outro café médio. O Domingo se mostrava indefectível até o momento e tudo indicava que continuaria assim. Eduardo me contou sobre seu fim de semana memorável, eu disse que o meu foi meio parado, falamos sobre morar em uma casa e cocaína, garotas e a matéria de sexta-feira. Tudo estava indo muito bem. Depois de dois cigarros muito bem fumados, e duas xícaras de café preto, adoçado com um açúcar sem igual, demo-nos por satisfeitos. Era hora de sair dali. Olhamos um para o outro. Precisávamos de um plano. Mais uma vez a idéia partiu de Eduardo, aquele garoto realmente estava me surpreendendo hoje. Ele propôs que comprássemos uma cerveja cada um, o posto disse eu, ele prontamente concordou. Subimos a Avenida Paranaguá, satisfeitos, com duas xícaras de café (médio) e dois cigarros de nicotina no sistema circulatório. Atravessamos a Colombo, o posto a poucos passos de distância. Me apressei ligeiramente. Empurrei a porta de vidro que separava a loja de conveniência das bombas. Olhei para as várias geladeiras encostadas a um canto e pensei - Qual cerveja tomar? - mas essa é uma outra história.
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Desde o meu aniversário, eu queria escrever algum texto em que eu fosse o narrador de mim mesmo. Mas tava difícil vir alguma inspiração suficiente pra isso, agora eu já entendi porquê. Quem precisa do funk do Dj Monstro, clique aqui. Escrevi ouvindo The Horrors, os caras fazem um som "moderninho" com uma temática de filme de terror. Quem quiser ouvir, clica aqui, quem não quiser, morra. Boa noite.

2 comentários:

  1. descreve uma semana desse jeito, aí vira um livro,
    pq vc fica ouvindo funk e reclamando hauhauhauha,
    "Cento e vinte mililitros de um líquido negro e quente," tenso, trabalhe nisto ^^

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  2. "a internet toda porcaria vomitada pelas pessoas mais idiotas da face da Terra"

    adorei, querido

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