20.10.10

Prontuário 43750.

Acordei, estava tudo escuro e a cama parecia mais desconfortável. Gemi, tamanho fora o susto que levei ao levantar a cabeça e dar com a testa numa superfície sólida. Os braços colados no corpo, também tocavam as paredes de alguma coisa, imobilizados por essas. Tentei gritar, mas a boca colada me surpreendeu dizendo que não abriria com pouco esforço. Quando respirava, sentia alguma coisa entupindo meu nariz, dificultando a passagem do ar. Já havia entendido, e só tinha uma resposta pra essa situação bizarra, havia sido enterrada morta. Meus olhos, saltados em desespero, giravam frenéticamente, como se procurassem alguma solução. Tentava raspar aquele veludo barato, que só a um morto poderia confortar. Tudo em vão.
_Mãe, acorda! Mãe! - abro os olhos, é Rafaela me lembrando que esses sonhos me incomodavam já a alguns dias.
_Você não parou de gritar dessa vez.
_Desculpa, filha. Pode ir deitar, já. Foi um sonho doido que tive.
_O que você sonhou?
_Coisa boba, filha. Melhor não conversar dessas coisas.
Me levanto pra tomar um copo d'água, a casa escura me causa um frio na espinha quando me lembra do que acabei de sonhar. Esse sentimento de invalidez tem me ocupado os dias. O relógio da cozinha diz que já estava na hora de acordar. Isso veio bem a calhar, dormir de novo seria um suplício. No caminho pelo banheiro, passo pela sala e tenho a péssima idéia de me olhar no espelho. A espinha congela dessa vez, meus pelos arrepiam. Parada, de frente pra mim, estava eu mesma. Mas, como nos sonhos, a boca colada, os algodões enxendo as narinas e os olhos fechados. O coração querendo pular da boca, e os pés, insistentes, agiam como se grudados em concreto. Por fim, consegui me mover, fiz xixi olhando pra baixo, tinha medo dos meus olhos me enganarem de novo. Depois de dois ataques, precisei me mudar pra casa da minha filha. Não era seguro morar sozinha e, para o médico, não era mais seguro trabalhar também. As manhãs eram passadas sentada, as tardes passadas sentada, as noites passadas dormindo. Quando meu neto vem da escola, é a única hora que tenho alguma distração. Jesus, me perdoe, mas às vezes penso que prefiro o ataque cardíaco. Ontem, depois de tomar meu chá de camomila com pamelor, dormi no sofá enquanto passava "A Grande Família". Tive um sonho, já não acordava enterrada. Minha família em volta de um caixão, até minha irmã de Minas, com um olhar de tristeza e de perda. Dessa vez, eu olhava tudo de cima. Havia dias que não me sentia tranquila como nesse sonho. Mas de repente, senti aquele aperto, como se o mundo estivesse parando. Meu peito, estava pegando fogo, e a dor de mil agulhas sendo cravadas no coração me fez gritar com uma força que eu não sabia que existia. A última coisa que vi foi meu neto e minha filha correndo pra me socorrer. Deitada nessa cama de hospital, penso que certos sacrifícios são nescessários e morro de saudades daquele sonho.
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Escape the Nest - Editors
. Porra de faculdade, cheia de merda pra fazer. Amo meu curso. To querendo postar aqui desde o século passado, mas as bruxas e as relações artesanais de Murcia não estão ajudando, não. Um beijo no esôfago.

5 comentários:

  1. Desejo de tranquilidade é tudo ....
    faculdade e o curso q amamos nos consome todas as energias....aguente firme e um dia não muito longe vc vai estar bem anestesiado com tantas obrigações
    bjo no rim hsuahsu

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  2. fica bravo se eu disser que você é melhor escrevendo putaria?

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  3. 1 - esse era mais um desejo de morte, né, mayra?
    2 - eu tava ouvindo enquanto escrevia, kriska. escape the nest foi a última.
    3 - não, adoro putaria, mas acho que as pessoas não leria muito, ou achariam que eu sou algum tipo de tarado psicopata... até que isso é uma boa idéia! e esse foi o pior texto do blog até agora. certeza.

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  4. Não concordo Amanda, talvez você prefira putaria.
    E as mulheres daquela época precisavam de haxixe pra passar o dia.
    O pensamento da morte aeh vislumbrando a cena, o contexto me é natural...

    =]

    mto bom

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