18.9.10

Cenáculo.

Lembro como se fosse hoje, a luz dos postes iluminavam partes das ruas sempre na mesma frequência, a noite tinha um ar de calma e tranquilidade divertida, são essas noites que a gente encontra só de vez em quando, andávamos sempre em quatro, nosso grupo de gente estranha e desagradável. Fazia um pouco de calor, desses calores que só aquecem a alma, e deixa sempre com vontade de fazer alguma coisa excitante. Éramos quatro pedintes, quatro mendigos, quatro vagabundos, os quatro naipes imperfeitos e inconstantes. Desaprovando tudo, indo contra a corrente, se fazendo de besta pra vida ser mais aceitável. Naquela noite, nada podia ser ruim, tocava "Everybody's Trying to Be My Baby" no celular de alguém, e fumávamos um cigarro atrás do outro, alternando entre tragos de eight vermelho e tragos de presidente comprado no bar do gordo pedófilo. Adorávamos a podridão, sabíamos que não devíamos nada pra ninguém e se devêssemos, não iríamos pagar nunca. As piadas de baixo calão contadas por um e por outro, se misturavam com as conversas mais profundas e densas imagináveis. Na falta de um gesto de carinho menos intimidante que um aperto de mão, surrávamos de vez em quando um ao outro, só pra compensar. Quando parávamos, um ou outro com preguiça de continuar andando, olhávamos pro céu e falávamos das estrelas como amigas próximas. O conhaque estava indo pro final, os cigarros também. A briga começara às quatro, o porquê de tudo se perdeu. Mas dizem que foi por causa de uma aposta, ou de uma garota, ou de egos atingidos a bel-prazer. Independente do motivo, as ofensas, como eram gratuitas, foram consumidas sem controle algum, os empurrões vieram depois. As mãos começaram a dançar, e nesse balé de fúria, me lembrei da garrafa de conhaque que estava quase no final. Se alguém aqui já viu uma garrafa partida contra a parede, a fim de ser usada como uma arma, sabe do que estou falando. A camiseta furada e expulsando o sangue das veias. Foram os dois segundos mais rápidos da vida dos quatro. As faces de espanto deram lugar a olhos de derrota, de quem vê a última coisa que queria ver no momento. Um no hospital, um ficou na praça, um pegou uma arma, o outro ficou sentado na calçada de frente da casa até às seis. Eu esperei, não queria entender, eu merecia.
-
Like Dreamers Do.

Nenhum comentário:

Postar um comentário