12.9.10

Amor. Sativa.

Era a hora. Ficar parado contemplando a paisagem que era o quarto de paredes brancas. Nada se movia. Hugo percebeu que haviam se passado muitas horas desde que chegara ali. Devia estar incomodando, mas ficava. Nunca foi de seu feitio ser uma pessoa incômoda, mas ele tinha motivos para tal, hoje. Mascava seu terceiro chiclete, e já estava ficando sem gosto. A impaciência tomava conta do ar, e, ao invés de respirar, bufava. Lembrou dos bois da fazenda do avô. Bufavam também. Era a hora. Se ateve em conceber o que, de tudo aquilo, era certo. Nada. Será? Hugo era pessoa compreensiva, normalmente não tomava partido em questão alguma. Exceto aquela. E essas dúvidas que antes o beneficiavam, passaram a prejudicá-lo. É engraçado como em alguns momentos a boca fica seca, a língua fica presa e a coordenação motora simplesmente desliga. Era a hora. Teve medo quando ela lhe disse "Oi.", afinal, "Oi." poderia significar muita coisa. A linha tênue da educação separando o "Eu te amo" do "Me esquece. Ambas sentenças destruidoras em todos os sentidos. Medo de quê? Não se lembra. Mas, o frio na barriga e os olhos se mexendo pra qualquer lugar, indiciavam medo. Ele não era de ter medo. Seu particular mal gosto sempre o afastara de relacionamentos afetivos. Quem suportaria duas horas seguidas de Nelson Gonçalves? Ele suportava. Adorava, na verdade. Mas e ela? Ela passava pela sala sorrindo, ciente do efeito que causava nele, sorria. Não achava ele muito bonito, ou impressionante, ou admirável. Só via alguma coisinha que a instigava. Um "quê" de solidão disfarçada em auto-suficiência que ficava um charme. Hugo a queria, e repetia seu nome diversas vezes de noite, bem baixinho, pra não incomodar ninguém. Ela estava longe, desfilando pra outras pessoas, encantando outros olhares, outros meninos. Era a hora. Hugo engoliu seco, puxou ela pelo braço. Ela olhou séria, querendo ouvir as palavras certas. As que o deixariam passar.

_Que horas são?
_Haaaam... - procura o celular no bolso - 19:32.
_Valeu - sorri.

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"Give in"
, umas das piores músicas do The Kooks, serviu de fundo pra eu compor esse texto. Melo-dramático. Água com açúcar. Foda-se. O amor é cafona e desconfortável mesmo, além da natural tendência suicida. Muitas dessas explicam muito sobre esse texto também.

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