27.7.10

Terça-feira, pra quem pensava que na segunda o mundo acabou.

Ela viu os olhos dele, e viu que estavam tão tristes quanto o seu. Por mais que ele tentasse disfarçar com a arrogância e a ironia comum nos últimos tempos, Os olhos o denunciavam. Ela chorou no abraço. Foi quando agarrou-o como alguém que não tem mais força alguma, mas persiste em lutar. Ele era todo cinzas de cigarro e um rosto fechado, sério. Até que pediu que ela buscasse mais café, "Pode buscar mais café?", assim ele disse. E quando os dois levantaram, ele primeiro ficou se olhando no espelho por uns três segundos, virou-se pra ela e pediu sua mão emprestada. Ela entregou-a. Ele levemente levantou a mão dela pelo punho e de repente, num gesto impossível de prever, levou a palma dela com uma força violenta em sua cara. Ela chorou mais, perguntou o porquê daquilo. "Eu merecia isso", ele respondeu. Pela manhã, ele foi embora. E ela se sentiu só de novo, como nunca a muito tempo tinha sentido. Voltou para seu quarto e pensou em um milhão de coisas. "Por que ele tinha feito aquilo?", "Por que não pode ficar mais um pouco?", "O que eu fiz de errado?", "Que horas são?"... Desatou a chorar, e a tristeza, o pouco, o resto invadiu-a tomando todo o espaço que antes era da esperança. Seu coração eram migalhas, sua cabeça eram sobras e sua alma era feita de areia, se esfarelava enquanto ela existia. Precisava tomar uma atitude, não! não precisava pensava ela. Agora o tempo era seu companheiro mudo, vago... A paciência era inquilina, e o sentimento de falta se mudara por tempo indeterminado para dentro de si. Molho as fotos, o travesseiro, o teclado de seu computador e o chão de seu quarto com lágrimas traiçoeiras, que caçoavam ao cair. Tinha medo do futuro, e os próximos 15 segundos lhe eram mais aterrorizantes que sua velhice. Pensou em drogas, em se matar, cortas os pulsos, mas ela ia só parar, a noite não demorava. De noite, ela podia encostar a cabeça no seu travesseiro, que era confortável, e ficar um pouquinho mais triste antes de dormir. Quando dormia, ela chegava perto de sentir calma e lúcida. Sã do que fazia ou pensava. Olhava pra situação como uma peça estranha ao quebra cabeça, um encaixe vermelho para o azul quase branco do céu. Não entendia por que era assim, e no fundo não tentava entender. As respostas, para ela, só lhe trariam mais decepções, mais surpresas inesperadas e, no final das contas, ainda mais tristeza e vazio. Olhou pro teto, e como não lhe vinha mais nada à cabeça, pensou que não ser tão ruim assim se ele desabasse sobre. Imersa nesses pensamentos, seu sono lhe veio, ela virou de lado e começou um ronco leve e sossegado. Não demoraria a amanhecer, e quando amanhecesse seus sonhos se tornariam de novo sobras, restos, migalhas, pedaços, detritos do que, antes, a esperança e ele tornavam reais.

Terça-feira, pra quem pensava que na segunda o mundo acabou.

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