22.8.10

Desejos Suicidas Dominicais.

A noite. As árvores que se distanciavam em cada passo que o velho dava, diziam adeus a seu amigo que ali tantas vezes passara com o mesmo objetivo. A terra, ficava marcada cada vez que as botas velhas lhe tocavam a superfície, marcando o caminho agonizante desde seu princípio. A noite. Alguns animais de costumes noturnos, rastejavam, corriam ou andavam, mas o pouco barulho que faziam já era suficiente para o Velho sentir que não era o único ali, continuava a caminhar. As estrelas eram as lágrimas do céu, e como eram insuficientes as que do rosto escorria, o Velho adotou as que brilhavam no rosto do firmamento. A noite.
O Velho. Pensou em sua família, a mulher, as filhas e até de seu cachorro parecia sentir falta. Falta não, sentia culpa. Ele os abandonava. Fracassado, e quando foi que ele não os abandonara? Estava ali quando a primeira nasceu? Não estava nem quando a segunda viera ao mundo. Da mulher, não se lembrava a última vez que lhe dedicara uma frase de carinho, ou, ao menos, um simples olhar de ternura. O Velho. Já havia abandonado a todos a muito tempo atrás. Por mais que buscasse no passado alguma dádiva, algo para se orgulhar, ou que não pesassem em sua consciência, via apenas cinzas. E as cinzas, sabia ele, eram o triste sinal da destruição.
A Noite. Com uma lua que brilhava e acolhia a todos os que, na figura da casa, vêem a desgraça, iluminava o caminho do velho. O velho, que então começara a se dar conta de quanto tempo já fazia em que caminhava sem saber de certo o seu destino, via desenhar-se o abismo em que em situações parecidas tantas vezes estivera. Tentou voltar atrás, mas pra isso não havia forças. O que restara era energia apenas para um último impulso. A noite, tornava as águas escuras e frias. O rio hoje recebera uma nova companhia. O velho, em seu corpo morto, se deixava levar pela correnteza leve e macia de um braço d'água calmo. Em algum lugar, ouvia a música acolhedora daquela que acolhe os desesperados. Se entregou à voz morna que o chamava. Lá ele sabia que o passado não existiria mais, e seus demônios o perseguir não conseguiriam. Os dois. O Velho. A Lua.

-Apesar dos últimos posts terem sido todos às quartas, essa periodicidade não existe. Mas parece que a vontade ou a inspiração costumam aparecer pra mim apenas uma vez por semana. Escrevi pouco, porque acho que muito acaba que ninguém lê. Pouco também acaba que ninguém lê, mas muito é certeza. E escrevi por causa de um poema de Augusto dos Anjos, "História de um vencido", que é dividido em duas partes. O que escrevi é relativo à segunda. De novo a música de fundo foi "Prelúdio em Mi menor" do Chopin. Não tenho nada pra recomendar hoje, porque meus domingos são quase todos inválidos. Parece que esses dias estão pedindo um suicídio. Por enquanto eu tô só escrevendo sobre.

PS: Links em negrito. E uma 3x4 bonita do Augusto dos Anjos.

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